Na noite do dia 27 de Janeiro de 1835, soldados
da então província da Bahia invadem um galpão onde segundo denuncia de uma
mulher havia uma tentativa de levante dos muitos negros escravos e forros. A
primeira batida do guarda na porta está se abre e por ela sai uma multidão de
negros gritando apenas uma frase “Mata Branco, Mata Branco”, essa revolta deu
origem a uma serie de mudanças no sistema escravista brasileiro, porém o inicio
do levante começou bem antes de 1835 e um dos seus principais motivos foi à
independência do Brasil.
A
independência e as revoltas constantes
Sete de setembro de
1822 o Brasil declara sua independência, o então reino unido de Portugal e
Algarves é agora um país com suas próprias leis e seu governo, que continuou na
mão de D. Pedro I o filho do rei, porém na Bahia antiga capital da colônia a
independência tardou a chegar e essa é a grande discussão feita por muitos
historiadores, quais foram os motivos que levaram a Bahia a se tornar
independente um ano após o Brasil?
Bem
para responder a essa pergunta é necessário voltar à Bahia pré-independente, primeiramente
a então província foi a capital da colônia até 1810 desta maneira ela foi por
muito tempo o centro comercial, e a Bahia do século XIX tinha sua economia
baseada na exportação agrícola e os principais agricultores eram lusitanos, que
aqui se instalaram fazendo das ruas baianas seu porto comercial. E no pós- independência
seria difícil para estes deixarem seus meios de vida assim eles lutaram para
não abrir mão do território que obtinha.
O
rei D. João VI havia abdicado do domínio da colônia, no entanto para uma massa
de comerciantes lusitanos abandonar seus bens e riquezas formadas na colônia
era de certa forma um ultraje, eis uns dos motivos que levaram os portugueses a
formar uma resistência dentro do Brasil
contra a independência. Mas como diz a historiadora Katia Mattoso, motivados
pelos ideais dos iluministas de liberdade igualdade e fraternidade o povo
baiano lutou pela expulsão dos lusitanos e consolidação de um estado
independente.
No
âmbito da guerra na Bahia as diversas classes sociais lutaram cada uma
basicamente com os seus próprios interesses, tal como afirma J. J. Réis, “A
história das lutas da Independência na Bahia não foi apenas a história de um
conflito entre brasileiros e portugueses.” A divergência vem enfatizar o medo que as
elites locais tinham de os negros tentarem manter o levante e tomar o poder na
Bahia (o “partido negro” relatado no livro negociação e conflito de Eduardo
Silva e Réis foi uma dessas instituições criada por escravos ou forros para
tentar manter um levante das camadas miseráveis contra o governo imperial),
contudo para conter o numero de escravos que participaram da guerra e agora
estavam com armas nas mãos, todos os escravos combatentes tiveram baixas sem um
beneficio daí o numero de homens pelas ruas revoltados com sua situação
aumentava a cada momento e os levantes eram constantes, o historiador
estadunidense B. J. Barickman em seu livro Um contra ponto baiano faz o relato
que ocorreu em 1832 quando “soldados dispensados de seus batalhões após a
guerra da Independência vagavam pelo recôncavo, atacando povoados.”
Esse clima de tensão revelava como foi falho e discrepante o processo de
independência, se houve em algum momento um sentimento de coletividade por
parte dos combatentes este se perdeu logo após o dois de julho.
Essa
situação de camaradagem com os lusitanos após a independência deixava os
baianos irritados e muitos foram os levantes de Mata-Maroto que acabavam
gerando crises no sistema econômico e na estrutura política, afinal de contas
um presidente de província que não conseguia conter os grupos revoltosos tinha
sua competência profissional questionada.
Mata
Branco, Mata Branco.
No
meado do século XIX a Bahia sofria uma seria crise econômica, o historiador Manoel
Antonio Santos Neto diz:
“O povo padecia enormemente. No entanto,
a província exportava 17.142.260 k de açúcar e 26.400.880 k de fumo. Mas a
riqueza continuava ilhada na mão da maioria detentora dos setores básicos da
economia, enquanto o povo continuaria sofrendo e vivendo em precária e
calamitosa situação.”
Dentro desse quadro a
desestabilização política dá lugar às revoltas que muitas vezes são abraçadas
pelas camadas mais desesperadas da sociedade, e desde 1823 vinham ocorrendo
levantes às vezes motivados pelos federalistas descontentes com a submissão da
Bahia ao governo do Rio de Janeiro e na maioria das vezes pelos escravos que
reivindicavam a tão amada liberdade. É desta maneira, motivados pelo ideal de
liberdade que em 1835 os inconformados negros se unem para fazer o levante que
ficou conhecido como A Revolta dos Malês.
Malês é uma palavra em islâmica que
designava, na época, o negro (ou de religião) Árabe, esses negros eram muito
mais marginalizados que os negros nativos, devido ao fato de serem seguidores
da religião Mulçumana. Porém isso não impediu que os escravos se organizassem
de maneira bem ordenada, pois como afirma Manoel Alves Branco, ministro da
Justiça da época a cerca da revolta, “foi dirigida com mais habilidade e plano
regular”.
Escravos de diversas etnias se reuniram em prol de uma bem comum, pelo menos
para eles, o ideal era tomar o poder da província da Bahia e fazer o que os
brancos vinham tentando há algum tempo, separar a Bahia do Império brasileiro,
estabelecer um governo federalista e matar todos os brancos. Na noite do dia 24
de janeiro de 1835 o movimento estourou e os escravos movidos por todo o ódio
até então cometidos contra eles saíram armas (facas, machados etc.) em mão
gritando a frase que gerou todo um medo nos escravocratas, “Mata Branco, Mata
Branco”. A origem dessa frase vem do fato de que muitos negros não falavam portugueses,
porém quando o levante foi delatado havia apenas uma coisa em comum entre todos
os revoltosos, o desejo de castigar seus algozes, ou seja, os brancos.
A revolta de 1835 foi a ultima
grande revolta de escravos na Bahia, com a neutralização dom levante quase
todos os revoltosos foram presos ou acoitados em praça publica para que
servissem de exemplo aos demais. Todavia os Malês não foi de tudo em vão, após
o levante foi intitulada uma lei que proibia os senhores de escravos de
castigarem esses com mais que 80 chibatadas, houve uma efetivação melhor de
certos direitos como o de não trabalhar aos domingos e dias santos e o direito
aos escravos de ter uma porção de terra perto da lavoura para o cultivo de produtos
de subsistência, a chamada brecha camponesa que foi criada logo após a
independência, mas que não havia um comprimento fidedigno desta.
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