terça-feira, 30 de outubro de 2012

O DOIS DE JULHO E A REVOLTA DOS MALÊS

          Na noite do dia 27 de Janeiro de 1835, soldados da então província da Bahia invadem um galpão onde segundo denuncia de uma mulher havia uma tentativa de levante dos muitos negros escravos e forros. A primeira batida do guarda na porta está se abre e por ela sai uma multidão de negros gritando apenas uma frase “Mata Branco, Mata Branco”, essa revolta deu origem a uma serie de mudanças no sistema escravista brasileiro, porém o inicio do levante começou bem antes de 1835 e um dos seus principais motivos foi à independência do Brasil.
 
A independência e as revoltas constantes
           
Sete de setembro de 1822 o Brasil declara sua independência, o então reino unido de Portugal e Algarves é agora um país com suas próprias leis e seu governo, que continuou na mão de D. Pedro I o filho do rei, porém na Bahia antiga capital da colônia a independência tardou a chegar e essa é a grande discussão feita por muitos historiadores, quais foram os motivos que levaram a Bahia a se tornar independente um ano após o Brasil?
            Bem para responder a essa pergunta é necessário voltar à Bahia pré-independente, primeiramente a então província foi a capital da colônia até 1810 desta maneira ela foi por muito tempo o centro comercial, e a Bahia do século XIX tinha sua economia baseada na exportação agrícola e os principais agricultores eram lusitanos, que aqui se instalaram fazendo das ruas baianas seu porto comercial. E no pós- independência seria difícil para estes deixarem seus meios de vida assim eles lutaram para não abrir mão do território que obtinha.
            O rei D. João VI havia abdicado do domínio da colônia, no entanto para uma massa de comerciantes lusitanos abandonar seus bens e riquezas formadas na colônia era de certa forma um ultraje, eis uns dos motivos que levaram os portugueses a  formar uma resistência dentro do Brasil contra a independência. Mas como diz a historiadora Katia Mattoso, motivados pelos ideais dos iluministas de liberdade igualdade e fraternidade o povo baiano lutou pela expulsão dos lusitanos e consolidação de um estado independente.
            No âmbito da guerra na Bahia as diversas classes sociais lutaram cada uma basicamente com os seus próprios interesses, tal como afirma J. J. Réis, “A história das lutas da Independência na Bahia não foi apenas a história de um conflito entre brasileiros e portugueses.” A divergência vem enfatizar o medo que as elites locais tinham de os negros tentarem manter o levante e tomar o poder na Bahia (o “partido negro” relatado no livro negociação e conflito de Eduardo Silva e Réis foi uma dessas instituições criada por escravos ou forros para tentar manter um levante das camadas miseráveis contra o governo imperial), contudo para conter o numero de escravos que participaram da guerra e agora estavam com armas nas mãos, todos os escravos combatentes tiveram baixas sem um beneficio daí o numero de homens pelas ruas revoltados com sua situação aumentava a cada momento e os levantes eram constantes, o historiador estadunidense B. J. Barickman em seu livro Um contra ponto baiano faz o relato que ocorreu em 1832 quando “soldados dispensados de seus batalhões após a guerra da Independência vagavam pelo recôncavo, atacando povoados.”  Esse clima de tensão revelava como foi falho e discrepante o processo de independência, se houve em algum momento um sentimento de coletividade por parte dos combatentes este se perdeu logo após o dois de julho.   
         Para conter as tentativas de levante o poder moderador escolhia a sua maneira os presidentes de cada província, sendo que a Bahia teve cerca de quatro presidentes do Rio Grande do Sul segunda afirma Kátia Mattoso. Isso é uma contradição com o próprio sistema de governo, pois se por um lado os presidentes de províncias pouco tinham em comum com seu ligar de governo, houve como já foi dito anteriormente pouca ou quase nenhuma ação do governo para tirar das terras brasileiras, em nosso caso a Bahia, os lusitanos remanescentes da colonização (muitos destes combatentes no dois de julho).
            Essa situação de camaradagem com os lusitanos após a independência deixava os baianos irritados e muitos foram os levantes de Mata-Maroto que acabavam gerando crises no sistema econômico e na estrutura política, afinal de contas um presidente de província que não conseguia conter os grupos revoltosos tinha sua competência profissional questionada.
Mata Branco, Mata Branco.
            No meado do século XIX a Bahia sofria uma seria crise econômica, o historiador Manoel Antonio Santos Neto diz:
“O povo padecia enormemente. No entanto, a província exportava 17.142.260 k de açúcar e 26.400.880 k de fumo. Mas a riqueza continuava ilhada na mão da maioria detentora dos setores básicos da economia, enquanto o povo continuaria sofrendo e vivendo em precária e calamitosa situação.” 
 
                Dentro desse quadro a desestabilização política dá lugar às revoltas que muitas vezes são abraçadas pelas camadas mais desesperadas da sociedade, e desde 1823 vinham ocorrendo levantes às vezes motivados pelos federalistas descontentes com a submissão da Bahia ao governo do Rio de Janeiro e na maioria das vezes pelos escravos que reivindicavam a tão amada liberdade. É desta maneira, motivados pelo ideal de liberdade que em 1835 os inconformados negros se unem para fazer o levante que ficou conhecido como A Revolta dos Malês.
            Malês é uma palavra em islâmica que designava, na época, o negro (ou de religião) Árabe, esses negros eram muito mais marginalizados que os negros nativos, devido ao fato de serem seguidores da religião Mulçumana. Porém isso não impediu que os escravos se organizassem de maneira bem ordenada, pois como afirma Manoel Alves Branco, ministro da Justiça da época a cerca da revolta, “foi dirigida com mais habilidade e plano regular”. Escravos de diversas etnias se reuniram em prol de uma bem comum, pelo menos para eles, o ideal era tomar o poder da província da Bahia e fazer o que os brancos vinham tentando há algum tempo, separar a Bahia do Império brasileiro, estabelecer um governo federalista e matar todos os brancos. Na noite do dia 24 de janeiro de 1835 o movimento estourou e os escravos movidos por todo o ódio até então cometidos contra eles saíram armas (facas, machados etc.) em mão gritando a frase que gerou todo um medo nos escravocratas, “Mata Branco, Mata Branco”. A origem dessa frase vem do fato de que muitos negros não falavam portugueses, porém quando o levante foi delatado havia apenas uma coisa em comum entre todos os revoltosos, o desejo de castigar seus algozes, ou seja, os brancos.
 
     A revolta de 1835 foi a ultima grande revolta de escravos na Bahia, com a neutralização dom levante quase todos os revoltosos foram presos ou acoitados em praça publica para que servissem de exemplo aos demais. Todavia os Malês não foi de tudo em vão, após o levante foi intitulada uma lei que proibia os senhores de escravos de castigarem esses com mais que 80 chibatadas, houve uma efetivação melhor de certos direitos como o de não trabalhar aos domingos e dias santos e o direito aos escravos de ter uma porção de terra perto da lavoura para o cultivo de produtos de subsistência, a chamada brecha camponesa que foi criada logo após a independência, mas que não havia um comprimento fidedigno desta.
 





 

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